POR RICARDO CALLADO
Dois fatos curiosos podem ser observados nas eleições de 2018. O primeiro serão os estreantes na disputa. O segundo é a ausência de candidatos declarados ao governo do Distrito Federal.
Em eleições recentes tivemos veteranos disputando o Palácio do Buriti. Foi assim em 2002, quando estavam no páreo o então governador Joaquim Roriz (PMDB), candidato à reeleição.
Os adversários eram antigos conhecidos na política: Geraldo Magela (PT), Benedito Domingos (PP) e o estreante Rodrigo Rollemberg (PSB). Deu Roriz, na eleição mais apertada da história do DF.
Benedito, que na época era o vice-governador de Roriz, hoje se encontra preso. Magela é alvo de uma operação da Polícia Federal e Rollemberg é o atual governador. Após quatro anos, o ex-governador se elegeu senador, mas teve que renunciar envolvido na da Operação Aquarela, da Polícia Civil.
Na eleição seguinte, em 2006, o PT trocou Magela pela deputada Arlete Sampaio. Roriz apoiou a sua vice, Maria de Lourdes Abadia (PSDB). Ao mesmo tempo, colocava fichas na candidatura de José Roberto Arruda (DEM), que disputou o GDF em 1998, sem sucesso.
Arruda acabou ganhando. Passou o trator nos adversários. E a política brasiliense nunca mais foi a mesma. Com Arruda veio o delator Durval Barbosa e a Operação Caixa de Pandora.
As eleições que vieram depois foram marcadas pela judicialização. E acabaram caindo no colo daqueles que não eram favoritos.
Em 2010, o PT conseguiu chegar ao poder local pela segunda vez. A primeira foi com Cristovam Buarque, considerado um governo razoável e com muitas greves no funcionalismo. A memória curta do brasiliense elegeu o petista Agnelo Queiroz.
O favorito era Joaquim Roriz. Barrado pela justiça, o ex-governador cometeu um erro de estratégia. Ao invés de colocar seu candidato vice, Jofran Frejat, lançou a mulher, Weslian Roriz, sem nenhuma experiência política. Foi um desastre. Assim como foi o governo de Agnelo.
A segunda administração petista foi, até o momento, a pior da história. Agnelo conseguiu duas marcas eleitorais para o PT. Se em 2010 teve o melhor desempenho do partido numa eleição, em 2014, na tentativa da reeleição, a legenda amargou a sua pior votação.
Mesmo no poder, não conseguiu ir para o segundo turno. E viu os votos diminuírem também nas bancadas na Câmara dos Deputados e Câmara Legislativa.
O favorito em 2014 era novamente José Roberto Arruda, agora pelo PR. Foi rocado no meio da campanha por Jofran. O PSDB apostou numa terceira via com o então deputado Luiz Pitiman. E o PSB entrou na disputa novamente com Rodrigo Rollemberg. Sem Arruda, Rollemberg venceu a disputa.
Agnelo usou a máquina pública, colocou um exército de comissionados nas ruas com bandeiras vermelhas e despejou dinheiro. Nada deu certo. A avaliação do governo era péssima. Não mais tinha como reverter o sentimento da sociedade com o governo.
Ninguém se entendia dentro do Palácio do Buriti e no PT. Foi uma administração marcada por perseguições, equipe fraca, maus conselheiros e isolamento político. Erros que Rollemberg vem repetindo. E o sentimento se construindo.
Ao invés de escolher por um governo de esquerda moderna, optou pela velha esquerda burra. As práticas e conselhos que recebe – ou recebeu – foram suficientes para criar na sociedade uma desconfiança de que a atual administração poderia ser mais do mesmo. Um Agnelo II. Não é. Nem conseguirá ser. Por mais que sua equipe tente.
Rollemberg foi um crítico árduo de Agnelo na campanha. Fazia parte da disputa. Hoje, há uma movimentação em curso de aproximação entre o Buriti e o PT. Os encontros entre o governador e a bancada petistas são frequentes.
Recentemente, um almoço na Residência Oficial de Águas Claras com os deputados Wasny de Roure, Chico Vigilante e Ricardo Vale, Rollemberg manteve uma boa conversa com os antigos aliados.
Ao mesmo tempo que o governo precisa do PT, o PT aposta em Rollemberg para se manter vivo nas eleições de 2018. E manter os cargos que possui dentro da máquina pública, principalmente num momento que muitos companheiros ficaram sem emprego com o afastamento de Dilma Rousseff do governo Federal.
É compreensível que Rollemberg busque no PT apoio ao seu governo. O modo de fazer política se assemelha. A estratégia da discórdia montada desde o início da administração socialista é uma continuidade. O PT chegou ao poder pela terceira vez. De forma discreta.
Mas se não deu certo para Agnelo, muito provavelmente a estratégia tende a fracassar com Rollemberg.
Brasília não é nem de direita, tampouco de esquerda. É uma cidade de gente esclarecida. E conservadora. Que não aceita traições nem quebra de compromissos. Por isso que os governos que se deram melhor foram os que agregaram.
Rollemberg cisca para fora. Empurra aliados para o campo adversário. Ainda não enxergou isso. E, por proximidade, o PT virou o aliado ideal.
Nas três vezes que a esquerda venceu, o favorito era sempre do campo oposto e impedido de ser candidato ou pela justiça ou por não existia a regra da reeleição. Foi assim com Cristovam, Agnelo e Rollemberg.
Para 2018, não existe favorito. Por enquanto, nem candidatos. Mas uma coisa é certa, a estratégia da discórdia é um passo para a derrota. E Rollemberg chegou em sua encruzilhada de mãos dadas com o PT.