Por Felipe Fiamenghi
Eu sempre escrevi tudo que eu quis. Sempre expus minha opinião e nunca me preocupei em conquistar seguidores. Não sou um youtuber, que ganha monetização por visualizações e se precisar omitir minhas opiniões para “agradar” possíveis eleitores, em uma possível candidatura, eu nunca vou me eleger nem pra síndico do meu prédio.
Precisei, porém, parar e respirar, antes de fazer comentários acerca de tudo que está acontecendo no país. A decepção é imensa! E o que decepciona é a “direita”, não os “inimigos”. Deles não espero nada de bom, nunca.
Estamos vivendo um imenso cabo de guerra. O que já era esperado. Em um dos primeiros artigos após a vitória de Bolsonaro, disse que “haverá choro e ranger de dentes”. Basta conhecer minimamente o funcionamento da República para saber que a Presidência, sozinha, é muito “pequena” diante de todo o sistema aparelhado por décadas. Claro que nenhuma mudança aconteceria da noite para o dia.
E ainda existiam agravantes. Para o Congresso, o povo elegeu um sem-fim de aproveitadores, que “surfaram na onda” direitista apenas para angariar votos. Joice Hasselmann, Kim Kataguiri, Andre Janones, Alexandre Frota, Luis Miranda, Major Olímpio… Uma “base de governo” que não vale o que o gato enterra na areia.
Do judiciário não podíamos esperar nada além. Após elegermos Collor, FHC (2x), Lula (2x) e Dilma (2x), e sendo estes os que indicaram os Ministros do STF, é óbvio que não teríamos uma Suprema Corte Dinamarquesa.
Governabilidade e articulação
Nessas condições, só existe uma forma de manter uma governabilidade mínima: Fazendo um Governo de coalizão.
Não existe outra alternativa. Se o Presidente não tem a maioria no Congresso, tem que articular, tem que negociar cargos, tem que transformar “inimigos” em aliados. Caso contrário, não governa.
Bati insistentemente nesta tecla, logo no início, quando o General Santos Cruz ocupava a Secretaria de Governo e se recusava a atender até deputados da base aliada.
Fui xingado de todos os nomes possíveis, porque a “direita pura” achava que não tinha que negociar. Foi só ele desocupar o cargo que, em dois meses, aprovaram a Reforma da Previdência.
De lá pra cá, as negociações cessaram e cada vez que o Presidente se aproxima do “Centrão” os “puristas” dão chilique.
O resultado nós estamos vendo: O país estagnado, governadores mandando e desmandando no povo e os “Guardiões da Constituição” violando a Carta Magna de acordo com os próprios interesses; já que os únicos que têm o poder para fiscalizá-los não têm nenhum interesse em fazê-lo.
Enquanto isso, a briga de egos dos “poderosos” continua e a direita se apega no discurso dos Youtubers intervencionistas e da Joana D’Arc de rodoviária, a atual “heroína anti-esquerda”; posto que já foi ocupado por Sérgio Moro, Raquel Sheherazade, Kim Kataguiri, Joice Hasselmann, Joaquim Barbosa e até Gilmar Mendes.
Vou, então, contar um “segredinho sujo”
Os militares não vão “SALVAR” o país. Um dia depois de o Alto Comando da FAB emitir uma carta contra o decano do STF, Ministro Celso de Mello, mais uma “rodada” de mandados de busca, contra apoiadores do Presidente, emitidos pela Suprema Corte, foi cumprida pela Policia Federal.
O ano de 1964 já passou. Naquela época, no meio da Guerra Fria, O CONGRESSO depôs o presidente e elegeu o Marechal Castello Branco, com o apoio da mídia e da Igreja.
Naquela época, no meio da Guerra Fria, nenhuma potência estrangeira interferiria em um movimento do tipo, em um país Sul Americano. Logo depois, o mesmo aconteceu na Argentina e, na década seguinte, no Chile.
A situação geopolítica mundial, hoje, 56 anos depois, é absolutamente diferente. Se os militares não interviram em 2005, quando foi revelado um esquema de corrupção que COMPRAVA APOIO de parlamentares com dinheiro roubado do Erário, caracterizando de forma clara e indiscutível uma tentativa de Golpe de estado, não será agora que intervirão para garantir a governabilidade.
E nem digo, aqui, que é falta de vontade. É falta de competência legal. Um dispositivo que permita interferência militar CONTRA um poder da República só existe na cabeça dos intervencionistas, não na lei. A Constituição é, portanto, absolutamente clara quando delega ao SENADO FEDERAL a responsabilidade de fiscalizar a Suprema Corte.
Momento de fazer política
Não existe, então, outra possibilidade. Ou Bolsonaro começa a fazer política, sai em busca de aliados e, assim, consegue apoio para aprovar seus projetos e frear os desmandos do judiciário, ou continua dando suas entrevistas matinais na cerquinha do Planalto e fazendo suas lives no Facebook, inflamando o discurso dos defensores mais exaltados.
Uma hora, algum “apoiador” vai fazer uma cagada irremediável, em nome do “bem comum”, e os “inimigos” conseguirão colocá-la na conta do Presidente. É tudo o que estão esperando.
E nem está tão difícil, já que a “direita” não para de jogar contra, levando bandeiras com pedidos de ilegalidades para as ruas e, agora, reclamando por serem punidos por atos que, a vida toda, pediram punição para os adversários.
O que nos sobra em anseios por mudanças, falta-nos em estratégia. Nisso a esquerda ganha de goleada.