Ovacionada ao Sair da Prisão: Caso Deolane Exemplo da Bandidolatria no Brasil

Cultura da Bandidolatria: Um Fenômeno Preocupante na Segurança Pública do Brasil

*Por João Renato

Recentemente, o Brasil assistiu a mais um episódio que evidencia a crescente cultura de bandidolatria no país. A influenciadora digital e advogada Deolane Bezerra, presa na última quarta-feira (4) durante a Operação Integration, foi liberada da Colônia Penal Feminina do Recife para prisão domiciliar. O motivo: ela tem uma filha menor de 12 anos, o que a qualifica para os benefícios previstos no Acordo nº 318, que converteu sua prisão preventiva em domiciliar. No entanto, o tratamento recebido por Deolane na saída da prisão chamou a atenção. Ovacionada por fãs, a advogada chegou a ser carregada até um carro, enquanto protestava contra sua situação, como se fosse vítima de uma injustiça.

Esse comportamento é emblemático de um problema maior: a glorificação de figuras que, em outros contextos, seriam vistas como criminosas. Deolane, que se tornou famosa por defender criminosos e afirmar abertamente que “gosta de bandidos”, é a personificação da cultura da bandidolatria, onde o criminoso é transformado em herói ou vítima, em vez de ser responsabilizado por suas ações.

A Cultura da Bandidolatria e Suas Implicações na Segurança Pública

Esse fenômeno não é novo, mas tem se intensificado no Brasil, influenciado por discursos midiáticos e políticos que buscam “humanizar” criminosos, muitas vezes relativizando suas ações. O que está em jogo aqui é a própria estrutura moral da sociedade. Quando criminosos passam a ser celebrados como figuras populares, o impacto sobre a segurança pública é devastador.

De acordo com o psicólogo holandês Geert Hofstede, em seu clássico Culturas e Organizações: O Software da Mente, a cultura atua como um “software” instalado em nossas mentes desde a infância, moldando nossos valores e conceitos de certo e errado. No Brasil, essa “programação” cultural está sendo cada vez mais corrompida pela ideia de que o crime pode ser uma escolha justificável, desde que envolva algum tipo de “necessidade” ou “injustiça social”.

Esse tipo de discurso é visível em projetos de lei que tentam descriminalizar pequenos furtos, como o chamado “furto por necessidade”, proposto por alguns deputados. A ideia de que o roubo pode ser legitimado em determinadas circunstâncias reforça a percepção de que o crime não é uma questão de escolha moral, mas uma consequência inevitável de desigualdades sociais.

O presidente Lula em uma entrevista respondeu a uma pergunta sobre as causas da violência e atribuiu, equivocadamente, a alta nos índices de criminalidade ao nível de pobreza, como se lê:

“É uma coisa que está intimamente ligada. Ou seja, o cidadão teve acesso a um bem material, a uma casinha, a um emprego, e de repente o cara perde tudo. Então, vira uma indústria de roubar celular. Para que ele rouba celular? Para vender, para ganhar um dinheirinho. Eu penso que essa violência que está em Pernambuco é causada pela desesperança.”

Estudos e Evidências: O Crime é uma Escolha

Pesquisas recentes, como a do professor Pery Shikida sobre crimes econômicos, mostram que, para muitos criminosos, o maior temor ao cometer um delito é a perda moral, ou seja, o impacto que suas ações terão sobre sua reputação, especialmente perante a família. De acordo com o estudo, 60,8% dos presos apontaram a perda moral como o maior receio ao cometer um crime, superando até mesmo o medo de ser preso (14,2%).

Essa evidência sublinha a importância da cultura e dos valores sociais na prevenção do crime. Quando a sociedade reforça o respeito pelas leis e valoriza a reputação moral, ela impõe um custo elevado àqueles que escolhem o caminho da criminalidade. Entretanto, quando criminosos são tratados como figuras simpáticas ou até mesmo heroicas, esse custo moral é reduzido, o que incentiva o comportamento criminoso.

Contexto Histórico: A Influência Cultural no Crime

Estudos sobre o comportamento criminal em diferentes culturas revelam que a propensão à violência e ao crime não é necessariamente uma questão de pobreza ou desigualdade social, mas está profundamente ligada às normas culturais. O historiador Barry Latzer documenta como subculturas específicas nos Estados Unidos apresentaram altas taxas de violência por longos períodos, independentemente das condições econômicas. Por exemplo, grupos de imigrantes irlandeses e chineses no século XIX tinham índices elevados de crimes violentos, enquanto alemães e escandinavos apresentavam índices muito mais baixos, mesmo enfrentando as mesmas dificuldades econômicas e sociais.

Esse padrão sugere que fatores culturais têm um papel significativo no comportamento criminal, e o Brasil, ao adotar uma cultura de bandidolatria, está enfraquecendo suas próprias defesas morais contra o crime.

O Papel da Mídia e da Política na Reforço da Bandidolatria

A bandidolatria não surge no vácuo; ela é alimentada por narrativas midiáticas e políticas que relativizam o crime em nome da “humanização” das penas. Quando figuras públicas e influenciadores, como Deolane Bezerra, são celebradas por seus seguidores após serem envolvidas em crimes, o impacto social é profundo. A mídia, ao cobrir esses casos de maneira sensacionalista, muitas vezes reforça essa percepção, tratando o criminoso como uma vítima das circunstâncias.

Presta um desserviço a segurança pública quando se coloca em um jornal a figura do policial como violento e torturador ou quando iguala a polícia com o bandido, como fez a jornalista Daniela Lima, à época na CNN Brasil, ao comentar sobre a operação policial realizada no Jacarezinho, no Rio de Janeiro.

“Vinte e cinco mortos, um policial e o discurso da polícia é que estava todo mundo fortemente armado, aparentemente estavam muito armados mas não sabiam atirar porque eram 24 armados e mataram só um [policial] do outro lado, mas morreram todos esses”.

Além disso, políticos que promovem a descriminalização de furtos ou que defendem privilégios para criminosos contribuem diretamente para a normalização desse comportamento. Um projeto de lei que busque descriminalizar o “furto por necessidade”, por exemplo, não apenas enfraquece o sistema penal, mas também manda a mensagem de que algumas formas de crime são aceitáveis.

O Compromisso do NISP

O Instituto de Novas Ideias de Segurança Pública (NISP) se posiciona firmemente contra essa cultura distorcida. Para o NISP, a segurança pública deve ser baseada em princípios claros de responsabilidade e justiça. O instituto acredita que o combate à criminalidade passa pela rejeição a discursos que romantizam ou justificam ações criminosas e pela valorização de políticas que reforcem a integridade moral e social.

“O crime é uma escolha, e o NISP se compromete a trazer dados e análises precisas sobre as causas da criminalidade no Brasil, sempre em busca de soluções reais que tragam segurança e paz para a sociedade.” Luccho Andreotti – Presidente do Nisp.

Conclusão

O caso de Deolane Bezerra e o fenômeno da bandidolatria evidenciam uma crise moral na sociedade brasileira. Ao transformar criminosos em ídolos e relativizar o crime, estamos enfraquecendo as bases da justiça e da segurança pública. É preciso que a sociedade e as instituições rejeitem esse tipo de narrativa e reafirmem o compromisso com a lei e a ordem. Só assim poderemos construir um Brasil mais seguro e justo para todos.

João Renato B. Abreu, Policial Penal – DF, mestre em direito e políticas públicas, pós-graduado em direito penal e controle social, coordenador do Novas Ideias em Segurança Pública (NISP), faixa preta de jiu jitsu e autor do livro: Plea Bragaining?! Debate legislativo – Procedimento abreviado pelo acordo de culpa.

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