As eleições americanas são marcadas por uma característica singular: o Colégio Eleitoral. Diferente do Brasil, onde o presidente é eleito por voto direto, nos Estados Unidos, cada estado possui um número específico de delegados, e o candidato que vence em um estado geralmente leva todos esses votos para sua contagem final. Se adotássemos esse modelo no Brasil, como seria o resultado das eleições de 2022?
Entendendo o Sistema de Delegados no Contexto Brasileiro
Para entender o impacto de um sistema de delegados, precisamos adaptar a estrutura americana à realidade brasileira. O Colégio Eleitoral dos EUA baseia o número de delegados em dois fatores: a quantidade de deputados (que reflete a população de cada estado) e um número fixo de senadores (dois por estado). Usando essa lógica, simulamos um sistema em que cada estado brasileiro teria um número de delegados igual à soma de seus deputados federais e senadores. Assim, os estados mais populosos teriam mais delegados, enquanto os menos populosos ainda manteriam uma representação mínima.
Para vencer, o candidato precisaria conquistar a maioria dos delegados. Como temos 594 delegados no total (513 deputados e 81 senadores), o número necessário para a vitória seria 298.
A Distribuição de Delegados no Brasil
Com esse modelo, a distribuição de delegados seria bastante desigual entre os estados. São Paulo, com 73 delegados, representaria uma força significativa, seguido por Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, estados que também contam com grande número de deputados federais. Por outro lado, estados como Acre, Roraima e Amapá teriam 11 delegados cada, devido ao número mínimo de representação.
Confira a distribuição estimada de delegados de cada estado na imagem a seguir:
O Resultado das Eleições de 2022 com o Sistema de Delegados
Agora, vamos aplicar esse modelo ao resultado das eleições de 2022. Cada estado é “vencido” pelo candidato que teve a maioria dos votos populares na região. No sistema de “vencedor leva tudo” (usado na maioria dos estados americanos), o candidato com mais votos em um estado levaria todos os delegados daquele estado.
Resultado Simulado:
Candidato Total de Delegados
Bolsonaro 340
Lula 254
Nesse cenário, Bolsonaro teria vencido a eleição de 2022 com 340 delegados, enquanto Lula teria ficado com 254 delegados. Essa projeção mostra como o sistema de delegados altera a dinâmica eleitoral. Mesmo com o voto popular a nível nacional sendo majoritariamente a favor de Lula, o sistema de delegados poderia ter dado a vitória a Bolsonaro.
Reflexões sobre um Sistema de Delegados no Brasil

Um sistema como esse favoreceria uma estratégia de campanha focada em estados-chave, e não apenas na maioria nacional de votos. Estados populosos, como São Paulo e Minas Gerais, seriam os principais focos de campanha. Além disso, regiões menos populosas ganhariam uma relevância estratégica, já que cada estado representa uma quantidade mínima de delegados.
Esse sistema traz benefícios e desafios: ele amplia o peso de estados menos populosos, mas também pode fazer com que o vencedor não reflita o desejo da maioria dos eleitores no voto popular. No contexto brasileiro, essa mudança certamente alteraria o modo como políticos e partidos se preparam para eleições presidenciais, dando ainda mais importância às particularidades regionais.
Conclusão
O sistema de delegados é uma abordagem complexa que altera profundamente a lógica das eleições presidenciais. Embora traga benefícios em termos de representação estadual, também apresenta riscos, como a possibilidade de uma desconexão entre o voto popular e o resultado final. Seria uma mudança radical que precisaria ser cuidadosamente discutida antes de ser implementada.