Brasília, nos seus primórdios, era um sonho com ruas largas e vazias. O trânsito? Quase inexistente. Quem viveu os primeiros anos lembra: bastava pisar no acelerador e os eixos pareciam pistas de corrida. Mas o que antes era espaço para o carro, hoje se transformou em uma selva de buzinas e filas intermináveis. Assim como o trânsito cresceu, também cresceu a densidade democrática do Distrito Federal. Mais gente, mais demandas, mais vozes e, claro, mais sede de política.
Foi em 1988, com a promulgação da Constituição, que Brasília deu uma guinada. A autonomia política finalmente chegou. Em 1990, a Câmara Legislativa do Distrito Federal nasceu para dar ao povo do DF algo que nunca teve: o direito de decidir sobre sua própria vida. Uma cidade construída para o futuro, mas que, por décadas, teve que esperar que decisões fossem tomadas à distância.
Essa autonomia foi mais do que um marco jurídico; foi uma reconfiguração do poder. A Câmara Legislativa se tornou um microcosmo de Brasília, onde as tensões, as contradições e os sonhos de uma sociedade multifacetada se encontram. E, assim como o trânsito que lota nossas ruas hoje, as disputas políticas também se tornaram congestionadas, intensas e, por vezes, imprevisíveis.
A densidade democrática não é só um número, mas uma metáfora. Cada carro que enche os eixos é como uma nova voz que busca espaço no debate. Brasília é hoje um terreno fértil para a política, mas também um espaço sedento por políticas públicas que deem conta dessa nova realidade: mais gente, mais necessidades, mais participação.
E é aí que entra a reflexão. Se a autonomia é o direito de decidir, será que estamos prontos para assumir as consequências dessas escolhas? O DF saiu da sombra e hoje tem a oportunidade de ser protagonista de sua própria história. A Câmara Legislativa, com seus mais de 30 anos, é o reflexo dessa evolução: um espaço de debate, confronto e construção.
Brasília não é mais só o centro do poder nacional; é o lar de uma população que quer ser ouvida, que quer mais do que governantes de passagem. Se antes eram poucas vozes, hoje são milhares. Se antes as ruas eram livres, hoje estão abarrotadas. É o preço de uma cidade que não para de crescer — e que carrega a responsabilidade de traduzir esse crescimento em políticas que façam sentido para o povo.