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No tabuleiro político do Distrito Federal, imaginar que a esquerda se mova em unidade é uma simplificação perigosa. As tensões internas, ambições e projetos divergentes fragmentam frequentemente o campo progressista, tornando-o uma colcha de retalhos em constante disputa.
Um exemplo vivo dessa dinâmica é a figura de Paulo Capelli (PSB). Relativamente desconhecido por essas bandas, Capelli ganhou visibilidade ao atuar como interventor após os tumultos do 8 de janeiro, mas agora parece mirar voos mais altos: o Palácio do Buriti.
A prateleira alta da política
Para entender a lógica da movimentação de Capelli, é preciso reconhecer a natureza aspiracional da política. Estar na “prateleira alta” significa não apenas ambicionar um cargo de destaque, mas disputar espaço em um ambiente onde as lideranças já estabelecidas raramente cedem território.
Nesse sentido, Capelli enfrenta um desafio monumental: romper o protagonismo de nomes como Leandro Grass, ex-deputado distrital, e Reginaldo Veras, deputado federal, ambos com sólidas bases eleitorais e maior enraizamento local.
Capelli, no entanto, não se intimida. Ele traz para o jogo político uma abordagem ousada e, diríamos, teatral. Sua recente decisão de “morar” por uma semana no Sol Nascente, uma das regiões mais carentes do DF, deslocando-se de ônibus, é simbólica.
Não se trata apenas de um gesto político, mas de uma tentativa de encurtar a distância entre um político “estrangeiro” e o cotidiano das periferias. A questão que surge é: esses atos ressoam genuinamente com o eleitorado ou são percebidos como artificiais?
O peso do desgaste
A conjuntura nacional não favorece muito os planos de Capelli. O desgaste que o Partido dos Trabalhadores (PT) enfrenta em âmbito federal atinge em cheio à esquerda do DF, aonde o partido é historicamente influente. Essa maré contrária coloca um peso adicional sobre qualquer candidato que queira se apresentar como alternativa dentro do mesmo espectro ideológico.
E, para complicar ainda mais, Capelli parece se posicionar como um esquerdista mais radical, o que pode limitar seu apelo em uma região onde o pragmatismo político muitas vezes predomina.
Estratégia ou desespero?
O movimento de Capelli tem um mérito inegável: ele é um político que age. Em um cenário onde muitos preferem jogar na segurança da retórica, ele executa suas ideias, ainda que sob o risco de críticas e questionamentos.
No entanto, a política não se faz apenas de gestos. Ela exige enraizamento, narrativa e, sobretudo, a capacidade de construir alianças sólidas.
Nesse quesito, Capelli parece estar em desvantagem. Ser um “estrangeiro” no contexto político do DF é uma barreira difícil de transpor, especialmente quando enfrenta adversários que conhecem as nuances locais como a palma da mão.
Reflexões sobre o futuro
O caso de Capelli nos leva a uma reflexão mais ampla sobre o jogo político: a ousadia compensa? Em política, os resultados nem sempre seguem a lógica linear. Muitas vezes, é o improvável que triunfa, e a persistência de figuras como Capelli pode surpreender.
Por outro lado, a política também é feita de estruturas: partidos, coligações, bases eleitorais e narrativa. E, no caso de Capelli, fica a dúvida se ele conseguirá preencher esses espaços.
Uma metáfora para o momento
Capelli, com sua postura de ação e suas escolhas inusitadas, é como um jogador de xadrez que avança o peão até a última linha do tabuleiro. Ele sabe que o caminho é árduo e repleto de riscos, mas aposta na possibilidade de se transformar em uma peça maior.
A pergunta que fica é: o tabuleiro da política do DF está preparado para sua promoção? Ou será ele apenas mais um peão em um jogo dominado por reis, rainhas e bispos?