Depois dos aumentos nos preços de itens essenciais como café e ovos, da frustração em torno da “picanha do povo” e da crise no sistema Pix no começo do ano, o governo Lula enfrenta um desgaste crescente que parece longe de ser revertido.
O golpe bilionário que desviou mais de R$ 6 bilhões de aposentadorias, atingindo principalmente idosos das regiões Norte e Nordeste, agravou ainda mais a situação política do presidente. Em diversas regiões do país, a insatisfação só aumenta diante da falta de respostas concretas.
Faltando pouco mais de um ano para as eleições de 2026, quando Lula tentará renovar seu mandato, a crise atinge em cheio uma base importante de seu eleitorado: os aposentados e pensionistas. Muitos deles, sem acesso à internet ou ao aplicativo Meu INSS, foram surpreendidos com descontos irregulares em seus benefícios — e até agora não viram nenhuma restituição.
Segundo levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU), 42% dos beneficiários do INSS sequer conhecem o portal Meu INSS, e 67% das vítimas de fraudes vivem em áreas rurais, evidenciando o abandono de uma população carente de assistência digital e institucional.
Promotor de um discurso voltado à justiça social, o governo atual demonstra dificuldade em agir diante da gravidade do problema. Estima-se que entre 3 e 5 milhões de beneficiários, dos 37 milhões atendidos pelo INSS, não tenham acesso nem saibam utilizar o aplicativo — realidade especialmente comum em regiões com pouca estrutura tecnológica.
A falta de inclusão digital levou muitos idosos a depender de atravessadores, o que facilitou golpes e descontos indevidos. Entre 2020 e 2025, cerca de 9 milhões de beneficiários foram afetados por cobranças suspeitas. Mesmo assim, o governo ainda não apresentou uma proposta objetiva para devolver os valores desviados, apostando apenas em declarações vagas e possíveis parcerias com Correios e prefeituras.
A resposta institucional tem sido lenta e desarticulada. O telefone 135 vive sobrecarregado, o atendimento presencial tem capacidade limitada e o próprio sistema Meu INSS, além de instável, exige um grau de conhecimento digital que grande parte dos idosos não tem.
A ausência de políticas eficazes de inclusão digital e de canais alternativos escancara a negligência com os mais vulneráveis. O resultado é um cenário de descrédito que ameaça corroer uma das bases eleitorais mais fiéis do Partido dos Trabalhadores.
Caso não haja uma mudança de postura e medidas urgentes para reparar os danos, o governo corre o risco de ver ruir o apoio popular que o levou de volta ao Planalto. A lembrança de milhões de aposentados lesados pode ser decisiva nas urnas em 2026.