O Governo do Distrito Federal (GDF) realiza, no próximo dia 5 de julho, uma audiência pública para apresentar o diagnóstico dos principais desafios da mobilidade urbana na capital do país. O encontro marca o encerramento da primeira fase de elaboração do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS), desenvolvido pela Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), e também serve como base para a atualização do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), que não passa por revisão desde 2011.
Com o crescimento da frota de veículos e os gargalos no transporte coletivo, o objetivo da iniciativa é definir medidas que garantam deslocamentos mais seguros, acessíveis e eficientes. Entre 2015 e 2024, o número de veículos registrados no DF aumentou cerca de 29%, enquanto a população teve um crescimento inferior a 8%, um desequilíbrio que pressiona a infraestrutura viária e afeta diretamente a qualidade de vida da população.
Segundo o secretário da Semob, Zeno Gonçalves, a fase atual do trabalho, focada no diagnóstico, será sucedida pelo prognóstico e pela construção efetiva das propostas. O plano busca priorizar o transporte coletivo, ampliar corredores exclusivos, reduzir a dependência do carro particular e investir em infraestrutura para a mobilidade ativa, como ciclovias e calçadas adequadas.
Entretanto, há divergências sobre os rumos propostos. Especialistas em mobilidade urbana alertam para a chamada “armadilha rodoviarista” em que Brasília estaria presa, ao continuar expandindo vias sem melhorar significativamente o transporte público. O pesquisador Carlos Penna defende que os investimentos sejam redirecionados para modais mais sustentáveis, como Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), metrôs e trens urbanos. Para ele, a estrutura atual privilegia os automóveis em detrimento de pedestres e ciclistas.
Usuários do sistema de transporte também relataram entraves enfrentados no dia a dia. O taxista Laércio Ribeiro, morador do Gama, apontou a limitação de faixas exclusivas para táxis como um dos obstáculos para a categoria. Já o motoboy Joedson Galdino, da Asa Sul, reclamou da falta de vagas adequadas para motocicletas, o que acaba levando a multas por estacionamentos em locais proibidos.
Para quem se locomove a pé ou de bicicleta, os desafios também são evidentes. O professor de educação física Tiago Lima relatou ter se acidentado durante uma corrida devido ao asfalto irregular. A servidora Maritsa Ishioka destacou a falta de continuidade das ciclovias e a ausência de faixas de pedestre em regiões de tráfego intenso.
No transporte coletivo, a situação é ainda mais crítica. Isabel Duarte, moradora de Valparaíso de Goiás, descreveu a rotina de madrugar para trabalhar e passar horas nos deslocamentos, enfrentando atrasos, ônibus lotados e trânsito congestionado.
A Secretaria de Transporte informou que, após a audiência pública de julho, outras oficinas regionais devem ocorrer entre julho e agosto. A expectativa é que os planos sejam consolidados ainda neste ano e enviados como projeto de lei à Câmara Legislativa até novembro.
O deputado distrital Max Maciel, presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana, acompanha o processo e defende soluções que envolvam a integração entre os modais, o planejamento participativo e políticas como a Tarifa Zero. Ele também propõe um redesenho do espaço urbano, priorizando pedestres, ciclistas e usuários do transporte público.
O debate em torno do PMUS e do PDTU representa uma oportunidade para redefinir o modelo de mobilidade no Distrito Federal, com foco na sustentabilidade, inclusão e eficiência. A participação da sociedade e o compromisso com a implementação efetiva das propostas serão fundamentais para superar os desafios históricos da mobilidade na capital do país.