O cenário político do Distrito Federal começa a desenhar um enredo que mistura estratégia, ambição e uma disputa de narrativas que promete ser uma das mais intensas da história recente da capital. O foco: o Senado Federal em 2026.
O governador Ibaneis Rocha, nome tradicional da política local, está no centro desse tabuleiro. Seu projeto político aponta claramente para uma candidatura ao Senado. Mas o que parecia um caminho natural e sem grandes obstáculos agora começa a ganhar contornos de batalha campal. O motivo? A ascensão de uma verdadeira “legião estrangeira” dentro da política do DF.
A nova ofensiva conservadora
Michele Bolsonaro, Damares Alves e Bia Kicis representam hoje uma força política que, apesar de ter votos, carece de raízes históricas no Distrito Federal. As três não apenas têm discurso alinhado à direita conservadora, mas estão fazendo um movimento coordenado para transformar o Senado em uma trincheira ideológica. Não por acaso, já anunciam aos quatro cantos que o objetivo é ocupar as três cadeiras destinadas ao DF no Senado.
Essa movimentação não é à toa. Ela é estratégica. Brasília sempre foi um campo político peculiar, com forte presença de servidores públicos, classes médias conscientes e uma elite política que, historicamente, olhava com desconfiança para “forasteiros”. Mas agora, a pauta conservadora nacional passou a ser usada como atalho eleitoral.
A pauta local ficando em segundo plano
O risco é claro: enquanto a pauta moral e ideológica vira combustível de campanha, os reais problemas do DF – mobilidade, saúde pública, segurança, desenvolvimento urbano – vão ficando em segundo plano. A história política do DF sempre foi feita de alianças locais, lideranças de bairro e trajetórias construídas com o tempo. Essa nova onda ignora essa tradição.
O curioso é que o fenômeno não é exclusivo da direita. A esquerda também tem sua própria legião estrangeira. Nomes que nunca militaram politicamente em Brasília agora tentam transformar a cidade em vitrine de seus projetos pessoais ou de suas bandeiras nacionais.
A ilusão do curral eleitoral
É preciso dizer com todas as letras: Brasília não é curral eleitoral de ninguém. A cidade tem um eleitorado politizado, atento e que já mostrou nas urnas que não engole aventureiros. Em 2018 e 2022, vários candidatos considerados “celebridades políticas” amargaram derrotas fragorosas.
O problema da moral seletiva nas redes sociais
Outro fenômeno que chama atenção é a onda de influenciadores políticos que surgem nas redes sociais. Muitos se dizem moralizadores da política, mas não têm o mínimo de coerência pessoal. Não cuidam nem da própria família, nem da própria saúde, mas se acham no direito de ditar o que é certo ou errado na vida pública dos outros. Esse comportamento não constrói debate sério, apenas espalha ódio e desinformação.
O impasse do PL: Michelle, Bia e Ibaneis
Voltando ao xadrez político, a equação dentro do PL é um nó que até agora ninguém desatou. Caso Michelle Bolsonaro realmente entre na disputa ao Senado, Valdemar Costa Neto – o chefão nacional da legenda – já sinalizou que quer uma dobradinha com Ibaneis Rocha, visando um palanque forte para a direita em Brasília.
Mas… e a deputada Bia Kicis? Ela não esconde de ninguém que será candidata ao Senado a qualquer custo. Está disposta a ir avulsa se for preciso, mesmo que isso crie um racha interno. A conta, como dizem os analistas de bastidor, não fecha.
A direita acordou… mas ainda tateando no escuro
Depois de ter um presidente da República e, nas palavras de muitos observadores, ter desperdiçado politicamente esse momento, a direita do DF agora parece começar a entender a importância da base. A nova meta é fortalecer a bancada federal, conquistar espaço no Senado e, quem sabe, garantir musculatura para futuras disputas ao Palácio do Buriti.
Por enquanto, o jogo está aberto. Mas uma coisa é certa: quem subestimar o eleitorado brasiliense, achando que só a lacração ou o grito ideológico serão suficientes, corre sério risco de passar vergonha nas urnas.