A obsessão que leva ao fundo
Na clássica obra Moby Dick, de Herman Melville, o capitão Ahab embarca numa caçada obsessiva para matar a baleia branca que o havia mutilado anos antes. Em sua fúria, não percebe que sua própria tripulação já não rema por ele, mas contra ele.
O resultado é fatal: o navio afunda e todos morrem, menos um marinheiro que sobrevive para contar a história. No fim, capitão e baleia se arrastam mutuamente para o fundo.
Essa metáfora serve perfeitamente para a política local. Muitos parlamentares se perdem na ilusão de que o inimigo está fora — na opinião pública, nos adversários declarados, nos eleitores insatisfeitos — quando, na verdade, a maior ameaça vem de dentro da própria tripulação.
O inimigo interno
Todo político que ocupa um cargo, especialmente os distritais, constrói sua força política através dos espaços que distribui: administrações regionais, cargos de confiança, chefias em órgãos públicos. É ali que se cria visibilidade e presença junto à comunidade, longe do ar-condicionado.
Mas é aí também que se planta o veneno. Um administrador regional mal escolhido pode virar contra o deputado que o indicou. Ou ser mordido pela mosca azul e achar que já tem tamanho para virar candidato. Mesmo que não ganhe, tira os votos necessários para a reeleição do padrinho.
Cuidar da cozinha
Enquanto o político se ilude com discursos e redes sociais, a base pode estar sendo corroída por dentro. Os erros na montagem da própria equipe, da “cozinha”, são a fórmula perfeita para perder eleição.
Não basta distribuir cargos. É preciso saber para quem. Porque quem não cuida da tripulação acaba descobrindo tarde demais que ela também sabe remar — para longe.
Para refletir
Na política, a lealdade de hoje é a candidatura de amanhã.