*Por Dona Borges
Imprevistamente e abruptamente aconteceu: a morte de um grande amigo e grande mentor do Airsoft Nacional. Eu tinha preparado um texto totalmente diferente, mas o que aconteceu comigo em relação ao luto me fez mudar no caminho.
Está é a primeira vez que lido com o luto, de fato. Já lidei com o luto de pessoas próximas a mim, que perderam uma pessoa especial. Mas nunca com o meu próprio. E foi algo totalmente estranho. Foi uma emoção avassaladora e me fez perceber que eu nunca estive preparada para falar sobre a morte.
Por mais que seja um processo natural da condição humana, foi arrebatador para mim. Uma certeza de nossas vidas, mas uma imprevisibilidade cruel que é muito mais sobre quem fica do que sobre quem se vai.
Uma Dor Estranha e os Números
O luto me aproximou da nossa própria condição miserável. Aproximou-me da noção de que a morte nos permeia e um dia ela também me acometerá.
Viemos do pó e ao pó retornaremos. E durante esse processo foi possível descobrir um estudo realizado pelo pelo Sincep (Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil) – em 2018 – o qual mostrou que 74% das pessoas não falam sobre a morte no dia-a-dia e discutir sobre o tema foi considerado como algo depressivo (48%) e mórbido (28%).
Em contrapartida, 55% dos participantes concordaram que é preciso conversar sobre a morte, mas revelam que as pessoas não estão preparadas para ouvir. Isso mostra o quão ingênuos nós somos sobre o falecer.
Perda Repentina
Não obstante o luto ser uma condição inconteste da pandemia, é mais difícil ainda lidar, processar e viver. Saber que um amigo estava em uma condição que eu não poderia nem o visitar, tampouco seus familiares e milhares de outros amigos, é complexo de maturar e acreditar.
Ser acometido por uma doença que um dia está aqui e no outro não, é totalmente confuso para a mente humana. Acompanhar a terminalidade de outrem em distanciamento é mais abrupto ainda psicologicamente e sentimentalmente. E quando essa morte é de alguém jovem quebra-se uma corrente já esperada pela vida.
Leitura Necessária
Outrossim, acredito que a obra “A Agonia do Eros” foi muito assertiva e cirúrgica em abordar o excesso de positividade. Ter uma certeza ilusória de que nós e as pessoas que nos cercam tem a imortalidade a seu favor, ignorando problemas com os quais precisamos viver e conviver (como o tema em discussão) é uma cortina de ferro para entendermos sobre a efemeridade de nossas vidas, criando assim uma sociedade despreparada e que posterga o enfrentamento da maior certeza biológica coletiva: a morte.
A dor da Partida
Outro ponto foi a completa sensação de incapacidade e insuficiência. Observar outras pessoas que eu gosto e amo sofrendo por aquele que se foi é ainda mais doloroso. A vontade é de arrancar a dor do peito deles e sentir sozinha. Mas a morte é um fenômeno universal, o luto é singular. Cada um tem sua forma de experenciar e é algo que estou aprendendo a entender.
Pelo meu tempo de convívio, eu tenho uma maneira de sentir a perda. A família tem outra. Os demais amigos, outra. Cada indivíduo é ímpar e eu pude aprender a respeitar esse processo tão pessoal.
Por fim, a música “Gostava tanto de você”, do artista Tim Maia nunca fez tanto sentido neste momento. “Não sei porque você se foi”, e “aquele adeus não pude dar…” – podem traduzir um pouco do que todos nós estamos sentindo, Diderot. Deixo aqui a minha homenagem a você, meu amigo.
Fidelidade, companheirismo e luta traduzem tudo o que você foi e permanecerá em nossos corações. Saudades eternas! Oss.
Saudosamente, Dona Borges.
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*Julia Borges, a Dona Borges.