A estratégia da “mulher de bem” para 2026

De olho no voto feminino, o Partido Liberal já não descarta lançar Michelle Bolsonaro como candidata à Presidência em 2026, caso Jair Bolsonaro continue inelegível. Em recente coletiva, o ex-presidente afirmou: “Pergunta para a Michelle. Ela é a primeira que vai falar, a primeira a falar vai ser ela”, sobre a possibilidade de sua esposa entrar na disputa.

Michelle, destacando sempre “a fé e a feminilidade”, segue bem colocada nas pesquisas eleitorais — alcançando 39% das intenções de voto num cenário com Lula (43%) e Bolsonaro (41%) — e atrai a atenção por esse perfil, que combina o universo evangélico e o eleitorado feminino.

Para Felipe Rodrigues, da Câmara dos Deputados, “a atuação de Michelle Bolsonaro hoje representa uma movimentação estratégica do campo bolsonarista. Ela mantém o poder dentro do núcleo do bolsonarismo e usa a estratégia de ‘mulher de bem’ para se tornar uma liderança política própria.” Nesse sentido, ela pode, segundo ele, “ser candidata ao Senado, compor uma chapa presidencial ou ser a cabeça de chapa, a depender do que Bolsonaro e seu partido vão costurar.”

Mas há ceticismo no partido. Leonardo Paes Neves, da FGV, destaca: “Eu ainda tenho dificuldade de achar que isso vai acontecer, que as outras concorrentes vão, de fato, abrir espaço para ela.” Ele também lembra que Bolsonaro pode não aceitar que sua esposa o substitua politicamente: “A própria capacidade de o presidente Bolsonaro aceitar a ideia de que a mulher dele vai sucedê-lo…”

Nos bastidores, Michelle também é vista como peça que pode desviar atenção de outros possíveis nomes, um “cortina de fumaça”: “Ela serve como uma figura para tirar um pouco o foco de quem realmente vai ser o candidato. Ela acaba nublando o horizonte político…”

Marcelo Senise, marqueteiro político com mais de 36 anos de atuação em campanhas eleitorais no Brasil, destaca essa ambiguidade: “Para uma parcela significativa, especialmente as parlamentares evangélicas e conservadoras, o protagonismo de Michelle é celebrado. No entanto, para outras parlamentares, o protagonismo de Michelle pode, paradoxalmente, reforçar estereótipos limitadores.”

Senise aponta que Michelle ainda não demonstrou autonomia política: “Ela por enquanto é só uma promessa, ela ainda não ocupou de fato nenhuma posição política concreta, não teve independência de fato de se organizar, botar suas ideias para frente.”

Apesar da resistência dentro do PL e da ausência de experiência política direta, a imagem de Michelle continua sendo trabalhada. “Ela representa a defesa da família tradicional, dos princípios religiosos e de uma moralidade que se vê ameaçada por agendas progressistas. Contudo, o potencial de Michelle possui limites inerentes à sua própria simbologia”, analisa Senise.

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