Cenário dicotômico

Por Felipe Fiamenghi

Por anos, nossa voz foi calada pela esquerda. Eram poucos os que tinham coragem de se declarar, abertamente, como “direitistas”. Quem fizesse, imediatamente, seria taxado de fascista, totalitário, ou outros adjetivos semelhantes.

A esquerda criou monstros pra ela mesma combater e, assim, monopolizou a “justiça social”. No imaginário popular, transformou seus adversários em “caricaturas”.

Hoje a direita está ganhando voz e, infelizmente, grande parte dela age exatamente como a esquerda agiu. Assassinato de reputações, ameaças, rotulação dos “adversários”… Muda a capa, mas a cartilha é a mesma.

A ânsia pelo “embate” faz com que aplaudamos o idiota que grite mais alto. Patrícia Lelis, André Janones, Joice Hasselmann, Kim Kataguiri, Janaína Paschoal, Alexandre Frota, Sara Winter; não interessa a origem, a falta de conhecimento, a ausência de conteúdo. A “torcida” é de quem berra mais.

Desenvolvemos, aliás, um fetiche por polêmicas imbecis, que só reforçam a pecha de “caricaturas”. Caímos em todas as armadilhas dos adversários e, quando não tem nenhuma, criamos armadilhas para nós mesmos.

Ataques

Há menos de um mês, vimos os “conservadores” atacando transexuais, por causa de uma propaganda do “dia dos pais”. Algo tão estúpido quanto criticar o “Papai Noel”, porque ele tira o foco do verdadeiro significado do Natal. O “boicote” só serviu para colocar a empresa entre os assuntos mais comentados e dar munição para a esquerda chamar-nos de homofóbicos e intolerantes.

Agora, inflamados por uma militante, que em um passado recente estava com os seios à mostra em passeatas abortistas, criamos o caos em cima de um aborto legal, realizado em uma criança de 10 anos, vítima de estupro.

É surreal! Dezenas de “cidadãos de bem” fazendo campana na porta do hospital onde a garota, fragilizada com toda a situação, estava internada. Só faltaram as tochas dos “300 de Brasília”, para deixar o espetáculo ainda mais grotesco.

O procedimento, neste caso, foi conforme o previsto no Artigo 128 do nosso Código Penal, igual a tantos outros que são realizados anualmente no país. É tão comum que, desde 2014, é precificado na tabela do SUS. Mas os “conservadores” resolveram escolher justamente este, cuja personagem principal é uma criança, abusada durante quase a metade da sua vida, para fincar a bandeira da militância. É muita burrice! É dar tiro no pé de propósito.

A esquerda se aproveita

Foi mais um prato cheio para a esquerda se lambuzar com toda a incoerência daqueles que, até anteontem, faziam discursos inflamados contra a pedofilia, mas hoje acham perfeitamente justo punir a vítima “só mais um tempinho”, porque um laudo médico disse que a gestação era “segura”. Alguns, inclusive, chegaram a dizer que a interrupção da gravidez foi um crime PIOR do que o cometido pelo abusador! Algo nojento de se ver.

José Mujica, ex presidente uruguaio, na semana passada, fez uma auto crítica à sua ideologia, dizendo que “a esquerda confunde sonho com realidade e cai no infantilismo”. A direita está seguindo o mesmo caminho.

Se continuarmos com defesas utópicas; se não estudarmos sobre a política, entendermos o que é o que realmente defendemos e pararmos de dar ouvidos a qualquer militante alucinado, a direita tornar-se-á apenas a imagem invertida dos seus adversários. Um cenário dicotômico onde, independente de quem ganhar, todos perdemos.

 

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