O brasileiro é um povo peculiar

Por Felipe Fiamenghi

Não sei quantas décadas nós passamos inertes. Vimos nossas escolas serem tomadas por doutrinadores, nossos meios de comunicação virarem folhetins militantes. Assistimos ladrões, sequestradores e assassinos de outrora chegando no Congresso Nacional e até na Presidência… Mas nada disso nos ofende. Convivemos com a fome, com a miséria, com a violência. Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo, para sustentar um Estado gigante, oneroso e ineficiente, que além de coibir a criação de empregos, com sua burocracia corrupta, nos “devolve” o suado dinheiro dos impostos em serviços de péssima qualidade: Hospitais lotados, escolas desequipadas, estradas sucateadas, segurança ineficiente…

Mas nada disso nos ofende. Silenciamos enquanto manipulavam nossas crianças. Expuseram-nas a doutrinas escusas, conteúdo impróprio, falácias históricas. Deturparam os gêneros, as famílias e vilipendiaram nossa fé…

Mas nada disso nos ofende. Comparecemos às urnas para votar contra o desarmamento civil e, mesmo assim, arbitrariamente, fomos desarmados. Tiraram o nosso direito de defesa às nossas próprias vidas, de nossas famílias e nossas propriedades. As estatísticas de homicídio saltaram de 23 para cada 100.000 habitantes, em 2004, para 34 por 100.000, em 2016.

Deixamos, anualmente, 60.000 corpos no chão. O Brasil matou mais do que a Síria em guerra. O Rio de Janeiro matou mais que Bagdá…

Mas nada disso nos ofende. Estivemos no centro do maior escândalo de corrupção já descoberto em um regime democrático. Foram BILHÕES (algumas projeções falam em Trilhão) desviados do Erário. Dinheiro NOSSO, que deveria ser revertido em saúde, educação, segurança. A corrupção destrói futuros, tira vidas…

Mas nada disso nos ofende. Fomos trancados em casa. Cercearam nosso direito Constitucional à liberdade. Fecharam empresas, extinguiram empregos, algemaram e brutalizaram cidadãos por estarem em parques e praias e tentaram nos impor um medicamento duvidoso, nos tratando como cobaias…

Mas nada disso nos ofende. No país do Carnaval, o que nos ofende são apenas palavras. Somos sensíveis exclusivamente aos discursos do Presidente, que não seguem a “liturgia do cargo”. Do presidente, aliás, que foi eleito JUSTAMENTE por ser assim: Sem filtro; que ganhou destaque quando disse o que o povo pensa, na linguagem que o povo fala.Agora, depois de eleito, queremos que torne-se um “gentleman britânico”.

Com os próprios eleitores exigindo-lhe uma “mudança de postura”, confesso, começo a ter dúvidas se Bolsonaro deveria ser o Presidente do Brasil. Pelo jeito, o país gosta é dos “prudentes e sofisticados”, com discursos bem elaborados. Como Dória, criado por vovó, no apartamento acarpetado, soltando pipa no ventilador; ou Moro, o mentiroso desafinado, preocupado com sua “biografia”; ou Mandetta, o “rei do pico”; ou Huck, o global progressista, amigo de toda a corja corrupta tupiniquim. Se ainda caímos na conversa da extrema-imprensa e, fracos, “retiramos o apoio”, por sermos sensíveis a um discurso duro, talvez realmente mereçamos os governos que sempre tivemos.

Afinal, não nos importamos em ser ferrados, desde que seja com educação e elegância.

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