Rollemberg diz que a população precisa de uma cidade melhor

Informações Fato Online
Diego Amorim e Suzano Almeida
Mais descontraído do que no início do mandato, seis meses atrás, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), já tem na ponta da língua a resposta para as críticas que tem recebido, inclusive de aliados. “Estamos respondendo com muito trabalho”, retrucou ele em entrevista exclusiva ao Fato Online.
Na conversa de pouco mais de meia hora no Palácio do Buriti, na antessala de seu gabinete, o governador voltou a se queixar da crise financeira e dos problemas deixados pela gestão passada. No entanto, fez questão de frisar ações colocadas em prática até aqui, como a entrega de apartamentos no Riacho Fundo II, a conclusão de 11 creches e o início das obras de infraestrutura no Sol Nascente. “Tivemos que reduzir radicalmente a verba de publicidade e isso impede que o governo mostre mais suas ações. Mas o governo está caminhando, sim”, sustentou.
Ao tecer as estratégias do governo para aumentar a arrecadação e tentar driblar a crise, Rollemberg reafirma a necessidade de contar com o apoio da Câmara Legislativa para reajustar tributos como a TLP (Taxa de Limpeza Pública) e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), cujas bases de cálculo, segundo ele, estão defasadas.
No âmbito político, o governador aceita as críticas de que se afastou da base aliada, nega grampos no Buriti e não economiza elogios à deputada Celina Leão (PDT), presidente da Câmara Legislativa. Ele insiste que conta com o apoio dos deputados distritais para concretizar uma “agenda positiva”, fundamentada, em um primeiro momento, no projeto de concessões e parcerias público-privadas, as PPPs. “Vamos fazer isso dialogando com a cidade. E só tem sentido se oferecermos um serviço melhor”, defendeu.
Rollemberg anunciou, ainda, que até o fim deste ano o Centro Administrativo em Taguatinga deverá ser ocupado, após a derrubada da liminar que impedia o governo de pagar o aluguel milionário ao consórcio administrador do complexo. Além disso, o governador reitera a intenção de iniciar, no primeiro semestre de 2016, as obras de expansão do metrô em Samambaia, Ceilândia e na Asa Norte. “O Metrô está pronto para convocar licitação”, afirmou.
Confira os principais trechos da entrevista:  
Balanço dos seis meses de governo
“É uma responsabilidade muito grande. A gente teve alguns momentos de aflição por perceber um conjunto de problemas que a gente não consegue resolver na velocidade que gostaria. Confesso que me surpreendi com a situação financeira de Brasília. Não imaginava que fosse tão grave. Estamos agindo de forma bastante decidida. Tivemos uma postura bastante austera nesse período. Tivemos que apertar muito o custeio da máquina. Encontramos um orçamento completamente artificial, que teve a receita superestimada e as despesas subavaliadas. Desse ponto de vista, tivemos um semestre vitorioso”.
Centro Administrativo
“Estamos em negociação e temos todo o interesse em resolver os obstáculos jurídicos para que possamos nos mudar rapidamente para o Centro Administrativo. Infelizmente, teremos de nos mudar em condições não adequadas. Vamos ter que improvisar e mudar com o mobiliário de cada secretaria. Vai ser ruim, mas nós vamos tão logo o espaço esteja em condições de ser habitado. A obra foi feita, o investimento foi feito, não nos resta alternativa.  Nosso objetivo é mudar até o final deste ano”.
Relação com a base aliada
“Entendo que algumas críticas dos aliados são procedentes. A crise que a gente encontrou foi tão grave que nos tomou tempo. Tivemos que concentrar tantos esforços em buscar alternativas de redução de despesas e de aumento de receita que esse núcleo (da base aliada) acabou se fechando bastante. Consideramos que as críticas foram justas. Estamos abrindo o Conselho Político e ouvindo mais os partidos políticos. Isso vai ser bom para o governo. Queremos iniciar uma agenda positiva, apesar de todas as dificuldades”.
Celina Leão
“Tenho uma excelente relação com a deputada Celina Leão, que foi muito importante para o governo e para os brasilienses nesse primeiro semestre. Algumas das medidas importantes que aprovamos na Câmara Legislativa, como o Refis, tiveram o apoio da deputada Celina Leão. Não tenho queixas da deputada, tenho uma boa relação com ela”.
Grampos no Buriti
“Claro que não (há grampos no Buriti). Isso não faz parte da nossa cultura, do nosso mundo. Jamais gravaria uma conversa entre deputados ou entre qualquer tipo de pessoa. Quem me conhece sabe que isso não tem fundamento algum. Agora, qualquer um, por diversos motivos, pode gravar uma conversa no celular e colocar isso nas redes sociais. Foi um momento em que convoquei os deputados para falar do cenário econômico de Brasília e de algumas medidas que estamos encaminhando para a Câmara Legislativa. O ambiente foi esse, não tem nada mais do que isso. Foi uma conversa normal que alguém gravou com o claro objetivo de indispor a Câmara Legislativa com o governo. E é claro que não tínhamos o menor interesse nessa indisposição”.
Orçamento e contratações
“Como o nome já diz, a LDO é uma Lei de Diretrizes Orçamentárias. Há um conjunto muito grande de emendas. Vamos avaliar ponto a ponto. É claro que com a capacidade financeira que temos hoje, nossa capacidade de contratação de servidores públicos também fica limitada. Há um compromisso em trocar, na medida do possível, terceirizados por concursados, mas isso terá de ser avaliado, especialmente em relação aos limites da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal)”.
Aumento de arrecadação
“Estamos atuando em várias frentes. Estamos negociando com o governo federal o cumprimento adequado do Fundo Constitucional e já temos reconhecido R$ 650 milhões de compensação previdenciária. Só que a gente sabe que o governo também está com dificuldade financeira. Além disso, estamos trabalhando no Congresso com a aprovação de algumas medidas importantes, como a regulamentação do comércio eletrônico e o pagamento de precatórios. E temos medidas no âmbito local. Estamos trabalhando com a possibilidade de venda de terrenos, além da cobrança pela ocupação de área verde, muito comum no Lago Sul, no Lago Norte e no Park Way”.
Aumento de impostos
“Duas coisas precisam ser corrigidas com o apoio da Câmara Legislativa. Gastamos R$ 400 milhões com limpeza pública e arrecadamos para esse fim R$ 109 milhões. Temos que corrigir isso. No caso do IPTU, nossa proposta é atualização do valor venal (dos imóveis). Nossa proposta é ir atualizando progressivamente. Tem gente que mora num imóvel de 500 metros quadrados e paga IPTU sobre um imóvel de 80, 100, 150 metros quadrados. Essa atualização é importante. Não estamos propondo aumentar alíquota, mas fazer revisão do valor venal”.
Concessões e PPPs
“São uma boa alternativa de investimentos para Brasília. Mas é claro que qualquer parceria ou concessão que possa ser feita no Parque da Cidade, por exemplo, terá como condição a entrada absolutamente gratuita da população. Mas você tem vários restaurantes, o Pavilhão de Exposições, o Nicolândia, a piscina de ondas fechada. Se conseguimos um empreendedor competente a quem possamos dar condições para ele explorar, qual a diferença de isso ser administrado pelo governo ou pela inciativa privada? O importante para a população é ter o parque gratuito e de boa qualidade. Essa é a proposta. E vamos fazer isso dialogando com a cidade. E só tem sentido se oferecermos um serviço melhor”.
Concessões e PPPsTV 
“Estamos respondendo (às críticas) com muito trabalho. Basta ver a situação que a gente pegou (a cidade) e a situação que está hoje. A gente pegou Brasília com salários atrasados, e não foi fácil colocar isso em dia. Entregamos apartamentos, creches, iniciamos a infraestrutura do Sol Nascente, entregamos escrituras, aprovamos condomínios: isso tudo em seis meses. Agora, tivemos que reduzir radicalmente a verba de publicidade e isso impede que o governo mostre mais suas ações. Mas o governo está caminhando, sim. O país está em um ambiente de muita dificuldade. Todos os governadores têm encontrado dificuldades”.
Gestão da saúde
“Falta rever o modelo de gestão. Os problemas da saúde são inúmeros, vêm de décadas e são extremamente complexos. Ninguém vai resolver os problemas da saúde em um governo. O que é possível fazer é melhorar o atendimento. Brasília tem um problema sério que é a menor rede de atenção primária do Brasil. Muitas vezes as reclamações nas emergências partem de pessoas que, em tese, deveriam ser atendidas pela rede de atenção primária. O problema é que com a crise financeira, a gente também fica com limitação para ampliar essa rede. Estamos fazendo avaliações internas para apresentar o melhor modelo de organização”.
Expansão do metrô
“Iniciar a expansão no primeiro semestre do ano que vem talvez seja o prazo otimista, mas o Metrô está pronto para convocar licitação. Até o fim deste mês ou em agosto vamos selecionar a empresa que fará a expansão do metrô em Samambaia, em Ceilândia e para o início da Asa Norte. Se tudo correr bem, é bem possível que no primeiro semestre de 2016 a gente possa iniciar as obras”.
Legado do governo
“Espero poder deixar uma cidade bem melhor do que a que recebi, com os indicadores sociais, de saúde e de educação melhores. Tenho a convicção de que a população não espera de nós uma grande obra. O que a população espera é uma cidade melhor. E ela tem direito a isso. Então, nosso esforço é no sentido de entregar uma cidade melhor. E uma cidade que entenda que um novo modelo de desenvolvimento passa por pilares fundamentais: educação, cultura, ciência e tecnologia e meio ambiente. Se eu tiver semeado as primeiras sementes para isso, me sentirei muito feliz com a minha cidade”.

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