Por Celson Bianchi
Como a senhora tem acompanhado a queda de braço entre os trabalhadores e o governo?
Com bastante apreensão. A cidade inteira está apreensiva e criou-se um clima de tensão em todo o Distrito Federal. É preciso e urgente encontrar uma solução para isso. Senão, nesse clima em que estamos, fica difícil governar. É preciso entender que a crise não é maior que o entendimento.
Mas o governo está trabalhando para conter a crise, não?
Veja bem, o governo, o Legislativo e a sociedade estão mobilizados para ajudar a superar a crise, claro. Mas, até agora, quem tem sido mais penalizado é a população. Houve aumento de impostos. Há atraso de salários. Greves estão acontecendo. E o que é mais importante a ser lembrado é o fato que a crise não foi provocada pelo povo. A culpa disso tudo é do senhor Agnelo Queiroz.
De que forma, então, o governo poderia agir não sendo aumentar impostos e evitar mais gastos com aumentos de salários?
Vou voltar no tempo… O DF não teve o Fundo Constitucional a vida inteira. O ex-governador Joaquim Roriz viu a necessidade da capital ter recursos garantidos para ajudar nos gastos com Educação e Saúde. Então, Roriz foi ao presidente da época, Fernando Henrique Cardoso, conversou, pediu, e conseguiu garantir o Fundo que temos hoje. Isso é só um exemplo de que existem formas para se conseguir aumentar recursos na cidade. Uma alternativa seria uma conversa franca e com propostas que sejam boas para ambos os lados, governo e servidores.
Mas essa conversa não já existiu?
Devemos esgotar todas as possibilidades. Conversou, não ficou bom para ambas as partes? Conversa de novo. Negocia de novo.
A senhora concorda com a atitude de alguns colegas distritais que estão travando a pauta na Câmara com imposições ao Buriti?
Estão todos querendo dar sua contribuição para tirar a cidade do buraco. O trabalho de um deputado não é apenas criar, apresentar e votar leis. Os distritais estão dispostos a dar suas contribuições. Já comprovamos isso repassando a maior parte das nossas emendas parlamentares para resolver problemas na Saúde. Estamos, novamente, demonstrando isso chamando os sindicatos para conversar. Tenho certeza que se o governo pedir, cada um dos 24 deputados distritais tem, pelo menos, uma proposta para apresentar ao governador como alternativa para ajudar o Distrito Federal. Seriam, no mínimo, 24 ideias a mais.
A senhora, por exemplo, tem alguma solução que não seja aumentar impostos?
Sou totalmente contra o aumento de impostos. Grande parte dos meus projetos que apresento são para reduzir impostos, inclusive. Por que o governo não revê, por exemplo, as renúncias fiscais que concedeu às empresas no DF para aumentar a arrecadação? Num levantamento inicial que fiz, o GDF teria como arrecadar cerca de R$ 2 bilhões apenas revendo essas renúncias.
Então, na sua opinião, o governo não tem ouvido ninguém e tem tentado agir sozinho na crise?
Não disse que o governo não tem ouvido ninguém. Até porque, é claro que o governador deve ouvir algumas pessoas sim, ele tem um grupo político que dá conselhos a ele, é óbvio. O que estou dizendo é que os deputados distritais podem ajudar e têm sugestões que merecem ser ouvidas. Lanço mão mais uma vez de um ensinamento do meu pai que sempre deu certo em todos os quatro governos dele: governar é definir prioridades depois de ouvir o povo.