Informação comprometida

Por Simone Leite

Confesso que, ao ler o artigo de Vicente Limongi Netto sobre a falta de isenção no jornalismo atual, fiquei completamente perplexa. O que antes era um princípio essencial da profissão — a imparcialidade — parece estar sendo ignorado de forma escancarada, sem pudor. A forma como a apuração dos fatos está sendo moldada por interesses políticos e ideológicos, em vez de ser guiada pela busca pela verdade, é algo que me deixa profundamente triste, principalmente por ser alguém que escolheu essa profissão com o ideal de servir à sociedade e oferecer informação confiável.

Limongi, com sua vasta experiência, nos faz refletir sobre o jornalismo que se foi, aquele que se preocupava em transmitir os fatos de forma clara, honesta e sem o viés de quem os divulga. Esse jornalismo de qualidade, que deveria ser nossa maior referência, parece cada vez mais distante. O que estamos vendo hoje, em muitos casos, é um jornalismo que se deixou envolver por suas próprias agendas e que, muitas vezes, deixa de lado o compromisso com a verdade para se aliar a interesses partidários ou ideológicos.

É difícil não sentir uma certa angústia ao perceber a direção que a profissão tomou. Estamos testemunhando, de forma muito clara, uma perda de credibilidade e confiança por parte do público. E o que mais me entristece é perceber que esse afastamento da imparcialidade não é algo que acontece de maneira disfarçada ou velada. Hoje, a falta de isenção é imposta de maneira descarada, como se fosse algo normal, quando, na verdade, deveria ser um erro grave, algo inadmissível.

O jornalismo tem uma responsabilidade enorme, especialmente em tempos como o que vivemos. A informação deve ser precisa, apurada e, acima de tudo, imparcial. Quando a imprensa se perde nesse caminho, enfraquece a democracia, enfraquece a confiança do público e compromete a qualidade do debate público.

Como alguém que escolheu essa profissão com o desejo de contribuir para uma sociedade melhor informada, é doloroso ver esse processo de deterioração. Vejo o jornalismo, que um dia foi a minha vocação, sendo cada vez mais contaminado por interesses que não são os de informar, mas de manipular. E o pior é que isso não acontece mais de maneira disfarçada — a imparcialidade está sendo desprezada de maneira aberta e sem vergonha.

A crítica de Limongi não é apenas uma constatação sobre o presente, mas um grito de alerta. Se não fizermos algo para resgatar a essência da nossa profissão, o jornalismo, como o conhecemos, estará perdido. E, com ele, uma parte fundamental da nossa democracia também.

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