O crime organizado no Brasil deixou de ser apenas uma questão policial para se tornar um problema de governança. No Ceará, o Comando Vermelho decidiu inovar no ramo da extorsão: em vez de se limitar ao tráfico de drogas, agora impõe um pedágio aos provedores de internet, cortando cabos de fibra óptica até que aceitem pagar pela continuidade do serviço. Algumas cidades chegaram a ter 90% da população sem conexão, reféns de um novo modelo de controle criminoso.
O que o governo faz diante disso? Uma operação aqui, uma nota de repúdio ali, e segue a vida como se não estivéssemos vendo a ascensão de um governo paralelo. O Estado, que sempre se orgulhou de seu monopólio da força e da arrecadação de impostos, agora tem concorrência direta. O Comando Vermelho percebeu que não precisa mais ficar limitado ao tráfico: se controla a comunicação, controla a informação, os negócios, a própria dinâmica social. Não precisa de eleições, de Congresso, nem de justificativas democráticas. Apenas liga para um empresário e ordena: “Ou paga, ou seu serviço acaba”.
Nos últimos anos, ouvimos muito sobre um suposto golpe de Estado que quase aconteceu no Brasil. Desde a derrota de Bolsonaro em 2022, a esquerda política e a grande mídia repetem que houve uma tentativa de tomada de poder. Muito se falou sobre uma minuta de decreto, reuniões secretas e conspirações militares. Mas quando olhamos para os fatos, fica difícil entender como um documento não assinado e um PowerPoint desorganizado geram mais preocupação do que criminosos que, na prática, já impõem suas próprias regras.
A diferença entre o crime organizado e um Estado oficial? O Comando Vermelho não finge ser democrático. E, ao contrário de certos processos políticos que avançam a todo vapor para evitar uma candidatura em 2026, o Estado não parece ter a mesma pressa para enfrentar facções que já substituem sua autoridade. Se há uma ameaça real à soberania nacional, não parece vir de um ex-presidente inelegível, mas de um grupo que sabota infraestrutura essencial, impõe taxas e se comporta como um verdadeiro governo paralelo.
O golpe real não será noticiado com alarde, não terá investigações televisivas ou CPI com manchetes diárias. Ele já está acontecendo, silenciosamente, enquanto o governo finge não ver. Enquanto isso, o crime organizado cresce, e o Estado brasileiro vai encolhendo, sem fazer nada para impedir.