Apesar do discurso público de controle e revisão sobre o uso das emendas parlamentares, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já liberou R$2,3 bilhões em emendas de janeiro a abril deste ano. Os dados são do Tesouro Nacional, uma vez que o Portal da Transparência do governo federal segue ocultando essas informações desde o início de 2025.
Do total já desembolsado, R$1,6 bilhão foi destinado a emendas individuais — aquelas direcionadas diretamente por parlamentares — e R$780 milhões foram pagos por meio de emendas de bancada, que concentram recursos destinados a estados por consenso entre deputados e senadores de uma mesma unidade federativa.
O fluxo de pagamentos continua mesmo após o ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, ter protagonizado uma série de ações para “suspender” ou limitar os repasses. Reuniões, declarações públicas e decisões judiciais marcaram o esforço do STF e do Planalto para passar a imagem de maior rigor com os recursos. Na prática, porém, os pagamentos seguiram ocorrendo mensalmente desde janeiro.
A maior emenda de bancada paga pelo governo em 2025 até agora foi destinada ao estado do Tocantins, que recebeu R$40,5 milhões apenas em fevereiro. O município que mais recebeu recursos foi Araguaína (TO), com R$70,5 milhões, incluindo as duas maiores emendas individuais pagas neste ano.
O senador Irajá (PSD-TO) se destaca como o principal autor das emendas direcionadas a Araguaína, cuja representatividade política tem laços diretos com Brasília. O deputado José Guimarães (MDB), que atua na defesa dos interesses do município, é irmão do vice-prefeito da cidade — uma coincidência que chama atenção em meio à discussão sobre critérios e transparência no repasse de verbas públicas.
Em meio ao debate sobre o controle das emendas, o cenário aponta para a manutenção da prática como uma das principais moedas de troca no relacionamento entre o Executivo e o Congresso Nacional.
