Alguém aí está sentindo aquela energia de Copa do Mundo? Alguém aí está se sentindo em casa, tendo a Copa sediada no Catar? Alguém aí já parou para pensar o que um evento como a Copa significa para o mundo? E . . . Alguém aí já pensou o que as exigências e imposições do Catar quer dizer para todos nós? Devemos aceitar e considerar normal?
Meu caro amigo, se ao ler as perguntas acima se encontra surpreso, em choque, você precisa encarar a Copa do Mundo além de um evento de competição entre seleções de futebol e entender de fato o que ele representa economicamente e politicamente. E então você terá respostas plausíveis para todas as perguntas acima e ainda irá entrar comigo em um debate pra lá de construtivo e enriquecedor para ambos.
A Copa Mundial não deveria ser sediada num país como o Catar! Na verdade, não deveria nem ser opção. Segundo a Humans Right Watch, o Catar, onde é realizada a maior competição de futebol e a mais cara da história, entre 200 bilhões e 220 bilhões de dólares, é hostil com pessoas LGBTQIA+, mulheres e não respeita a maioria dos direitos humanos. O embaixador da Copa, o ex-jogador Khalid Salman, considera que os homossexuais, como eu, têm danos mentais, ou seja, ser gay, lésbica ou transexual no Catar dá cadeia e é altamente reprimido.
Algumas pessoas dirão que a cultura do país é assim, que eles são dessa forma e que nós temos que respeitar, mas o futebol não deveria ser um esporte democrático, popular e inclusivo? A palavra cultura, tendo em sua origem, o significado de: cuidar, cultivar e crescer, não deveria unir povos e pessoas?! Morte e maus-tratos pela diferença não é cultura, e sim crime! O próprio futebol, que era visto como um esporte machista, tem mudado e evoluído e, atualmente, muitos dos ícones, que dependem de grandes patrocínios para jogar, têm se manifestado contra essas ameaças de punição que a FIFA tem imposto aos seus jogadores.
Os estádios construídos por operários, em sua maioria imigrantes, e que viviam em situação análoga à escravidão, tiveram seus passaportes apreendidos e impedidos de retomar aos seus países de origem, cobrança de taxas ilegais de recrutamento, não pagamento de salários, ferimentos e milhares de mortes.
A violação dos direitos humanos faz parte de sua “cultura”, mulheres não tem nenhum direito assegurado em um país firmado por leis machistas, que adota regras discriminatórias de tutela masculina, negando às mulheres o direito de ter qualquer voz.
Sangue, morte, escravidão, machismo, LGTfobia essa é a mobilização que a Fifa hoje joga ao mundo. Uma mobilização às avessas, que veda os olhos para pontos importantes em troca de tantos outros fatores, que tem mais validade que vida, respeito, inclusão e diversidade.
Não deveria ser uma opção entre tolerar o intolerável, não podemos dizer ao mundo que assiste agora o evento, que tá ok essa cultura! As pessoas estão indo à uma festa onde pessoas, como eu, não são bem-vindas, não são bem tratadas. Estão sendo convidados para uma festa onde os convidados são intimidados a se calar! Onde o anfitrião dessa mesma festa, talvez me tolere, me suporte, desde que, eu me condicione ao que chama de cultura. E depois dessa festa? Irão continuar hostilizando seres humanos porque amam alguém do mesmo sexo.
Irão continuar discriminando mulheres e construindo empreendimentos com trabalho escravo. E nós vamos continuar fechando os olhos? Estamos seguros? Essa é a mobilização que queremos passar a todas as nações? Acho que não! E precisamos dar uma resposta mais efetiva, avançamos, mas continuamos ignorantes em vários aspectos, e deixamos de lado quando algo não nos afeta. Por hora, pode não afetar, por hora!