O retorno de um velho conhecido
A política do DF estava morna, até que José Roberto Arruda resolveu reacender o debate — desta vez dizendo que é candidato ao Palácio do Buriti. A discussão jurídica continua acesa: uns afirmam que ele está inelegível, outros garantem que já pode disputar. Enquanto os advogados travam essa batalha, a análise política revela um cenário bem diferente daquele de 2010.
O peso do tempo e o teto político
Arruda tem votos, sempre teve, mas também tem um teto eleitoral. Vivemos novos tempos: o eleitorado se renovou, as redes sociais moldam percepções e a briga ideológica define muito do jogo. A política virou campo de disputas identitárias, e o “meio do caminho” perdeu espaço.
Mesmo assim, Arruda tenta se reinventar — quer ser o “isentão” de 2026, ao estilo de Reguffe, se vendendo como técnico, pragmático e fora das brigas ideológicas.
Mas há um problema: o estilo “isentão” não empolga como antes. O eleitor de hoje quer lado, quer paixão, quer bandeira. E isso coloca Arruda diante de um dilema — ou ele assume um campo político, ou continuará flutuando entre passado e presente.
A barreira partidária
Mesmo com recall e base fiel, Arruda enfrenta a falta de partido disposto a bancar uma candidatura majoritária.
Os grandes e médios partidos estão comprometidos com projetos federais — querem deputados federais eleitos para garantir fundo partidário e tempo de TV.
O PSD, que seria um caminho natural, está nas mãos de Paulo Octávio. Sem tomar o comando da sigla, a legenda é carta fora do baralho para Arruda.
Partidos nanicos até podem abrir as portas, mas a maioria deles está na base de Ibaneis Rocha. Ou seja, quem tem estrutura está dentro do governo, e quem está fora não tem fôlego financeiro para embarcar numa candidatura desse porte.
A sombra das pesquisas e o fator Fred Linhares
Arruda aparece nas sondagens, mas não tem números que forcem uma sigla grande a apostar tudo nele. Em paralelo, nomes como Fred Linhares têm crescido — e com base sólida.
O apresentador e deputado federal chega a 9% ou 10% nas pesquisas, e seu partido já trabalha para eleger três federais, mostrando que o foco dos partidos está mesmo em consolidar bancadas, não aventuras.
Entre o sonho e a realidade
Arruda ainda desperta lealdades, tem admiradores e um grupo que acredita em seu retorno.
Mas no mundo real, sua candidatura ao Buriti hoje é mais sonho do que plano viável.
O fantasma da inelegibilidade ainda assombra, os partidos têm receio de apostar, e o eleitor mudou — mais ideológico, mais conectado e menos tolerante a discursos neutros.
Moral da história
José Roberto Arruda quer voltar, mas o tempo político é outro.
Ele tenta reviver o passado em um cenário onde as regras, os partidos e o eleitor são diferentes.
O “isentão” de outrora pode até ter charme nostálgico, mas, em 2026, quem não escolhe lado corre o risco de ficar fora do jogo.