O dissidente interno
Ontem falamos sobre como os dissidentes de um grupo político podem minar um projeto eleitoral. Hoje, seguimos na mesma linha, reforçando que, além da oposição externa, a derrota pode estar sendo cozinhada dentro de casa — na famosa cozinha política, metáfora para a equipe interna e os bastidores do mandato.
O padrinho da cidade
Por prerrogativa, um deputado distrital — e isso também vale para federais — escolhe administradores regionais. Ele faz questão de aparecer em vídeo, postar fotos e se apresentar como padrinho da cidade. Libera emendas e recursos para fortalecer sua base e tenta capitalizar politicamente cada benefício entregue à comunidade.
Quando a conta não fecha
Só que nem sempre a execução acompanha a intenção. Muitas vezes, a própria equipe do deputado bota tudo a perder. Administradores sem preparo, sem sensibilidade política ou sem competência técnica acabam criando crises que respingam diretamente no parlamentar. É comum ouvir que, para evitar ameaças internas, o deputado escolhe pessoas fracas — “fracas” entre aspas — para administrar as cidades.
O medo do Conde de Monte Cristo
Essa lógica tem nome: medo do Conde de Monte Cristo. Na obra de Alexandre Dumas, Edmond Dantès é traído pelos próprios colegas e, depois de anos, volta para se vingar, mais forte e impiedoso. Na política, muitos parlamentares morrem de medo de criar seu próprio “Dantès” — um aliado que ganha força e se volta contra ele. Para não correr esse risco, optam por indicar administradores fracos, sem ambição, incapazes de brilhar por conta própria.
O preço da mediocridade
O problema é que, ao priorizar lealdade cega e mediocridade à competência, o deputado acaba se afastando da base. As cidades ficam mal geridas, a população cobra e o desgaste aparece nas urnas. A lição é simples: ninguém quer um Monte Cristo em sua equipe… mas ninguém reelege um Fernand Mondego que só sabe fracassar.
Moral da História
Na política, mais perigoso que criar um traidor é cultivar um incompetente — porque o primeiro te derruba, mas o segundo te afunda com você.