A gestão da saúde pública no Distrito Federal foi alvo de duras críticas durante uma reunião promovida pela Comissão de Saúde da Câmara Legislativa (CLDF) na última terça-feira (25) . O encontro reuniu usuários do SUS, conselhos de saúde, sindicatos e representantes de classe para debater os desafios e possíveis soluções para o setor. Entre os principais pontos levantados estavam a precarização do atendimento, a terceirização de serviços e a falta de investimentos na estrutura pública.
A presidente da Comissão de Saúde, deputada Dayse Amarilio (PSB), destacou que o atual governo tem priorizado o repasse de recursos ao Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) em detrimento do fortalecimento da rede pública. Segundo a parlamentar, essa escolha tem resultado na falta de investimentos diretos em hospitais e unidades básicas, comprometendo a qualidade dos serviços prestados.
Outro problema apontado foi o déficit de profissionais na Secretaria de Saúde. Amarilio denunciou que há uma carência de cerca de 25 mil servidores na rede, o que agrava ainda mais a precarização do atendimento. “Sempre ouvimos que a Saúde não tem recursos, mas o orçamento da pasta é de R$ 14 bilhões. A pergunta que fica é: como estamos alocando esse dinheiro?”, questionou.
Privatização e terceirização sob ataque
O deputado Gabriel Magno (PT) foi ainda mais incisivo ao afirmar que a privatização e a terceirização dos serviços de saúde fazem parte de um “projeto político” do governo local. Para ele, a entrega da gestão ao Iges-DF representa uma decisão ideológica e não uma necessidade real do sistema.
“O governador fez essa opção, mas não era obrigado. Ele insiste na privatização da Saúde de forma completamente ilegal. O Iges não pode assumir a direção do SUS”, criticou. Magno também condenou a decisão de permitir que o próprio instituto passe a gerir seu contrato de prestação de serviços, classificando a medida como “imoral e absurda”.
O parlamentar ainda cobrou do governo um tratamento mais equilibrado entre as diferentes áreas de serviço público. Ele mencionou o pedido de reajuste salarial para as forças de segurança do DF, baseado no aumento da arrecadação do Fundo Constitucional, e questionou por que os profissionais da saúde e da educação não foram contemplados. “É legítimo o reajuste para a segurança, mas por que saúde e educação ficam com zero?”, indagou.
Modelo de gestão sob questionamento
A enfermeira Lígia Maria também fez críticas contundentes ao modelo adotado desde 2018, afirmando que a terceirização da prestação dos serviços compromete o interesse público e enfraquece o SUS. “É um modelo de morte, de precarização do trabalho”, disse.
O debate reforçou a insatisfação generalizada com os rumos da gestão da saúde no DF. Com um orçamento bilionário, mas uma rede carente de investimentos e profissionais, a falta de planejamento e transparência na alocação dos recursos segue sendo um dos principais desafios do setor. Diante da pressão crescente, a expectativa agora é que o governo se manifeste e apresente soluções concretas para os problemas apontados.